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CLARENCE BROWN

Flesh and the Devil

The Last of the Mohicans (EUA, 1920, 73′, p&b, mudo). Direção: Clarence Brown, Maurice Tourneur. Com Wallace Beery, Barbara Bedford. Elogiada adaptação da novela de James Fenimore Cooper, capturando sua essência sem alterar sa trama básica. Durante as guerras entre os franceses e os índios, duas irmãs tentam encontrar o pai desaparecido, um oficial britânico, quando defendia o Huron contra os franceses e seus aliados. As duas heroínas são ajudadas pelos Chingachgook e por Uncas, o último remanescente da tribo dos Moicanos, que também conta com seus amigos Hawkeye, aliados que habitam a fronteira. 

The Light of Faith (EUA, 1922, 33’, CM, p&b, mudo). Direção: Clarence Brown. Com Lon Chaney, Hope Hampton. 

The Eagle (O Águia, EUA, 1925, p&b, mudo, drama). Direção: Clarence Brown. Com Rudolph Valentino, Vilma Banky. Um dos melhores filmes estrelados pelo mais magnético galã do cinema mudo – uma pena que Rodolfo Valentino nunca tenha contracenado com Greta Garbo: seria o filme mais erótico do cinema silencioso. 

Kiki (EUA, 1926, p&b, mudo). Direção: Clarence Brown. Roteiro: Hanns Kräly, baseado na peça de André Picard. Direção de Arte: William Cameron Menzies. Com Norma Talmadge, Lew Cody, Ronald Colman. Uma espirituosa parisiense (Talmadge, numa de suas raras performances cômicas) está decidida a tornar-se corista e conquistar o coração do empresário musical (Colman), ainda que ele já esteja comprometido com uma beldade loira. 

Flesh and the Devil (A carne e o diabo, EUA, 1926, p&b, mudo, drama, romance, gay). Direção: Clarence Brown. Com Greta Garbo, John Gilbert, Lars Hanson. O filme vai trançando duas tramas finíssimas. A primeira é a história da amizade entre dois homens, Ulrich Von Eltz (Hanson) e Leo Von Harden (Gilbert), que fazem na infância um pacto de sangue para que nada os separe, sob a Estátua da Amizade – dois homens musculosos se enlaçando – cravada no meio de uma ilha deserta que eles chamam de Ilha da Amizade; a segunda é a história da paixão de Von Harden pela exótica vamp Felicitas (Garbo), que o fisga para só depois revelar estar casada. Um mero detalhe para ela, que passa essa informação ao amante logo depois de ser possuída por ele e trocarem anéis de fidelidade, e um pouco antes da chegada do marido. Assim Felicitas expõe Von Harden ao Conde Von Rhaden, justificando-se simplesmente: “Minha única desculpa é que te amo.” Essa deixa lançada ao amante é como um tapa na cara do marido, que, poupando a esposa desavergonhada, desafia o amante para o duelo de morte. A cena do duelo é magnífica, toda em silhuetas recortadas no horizonte, um teatro de sombras enquadrado com a câmara recuada até uma perspectiva abismal, deixando ver apenas a fumaça saindo dos dois canos das pistolas a cada extremidade lateral da tela…  Ficamos sabendo quem morreu na contenda na elipse que constitui a cena seguinte, que enquadra apenas Felicitas ao espelho do toucador de seu quarto, provando, coquete, o mais novo acessório de seu guarda-roupa: um véu negro. Ela então sorri discretamente, pois está feliz com a morte do marido, com a herança conquistada, com a porta aberta para um novo casamento… Deslumbrante destruidora de corações, Felicitas, que traíra o marido com o amante, não demora em trair o amante, agora engajado no front, com o melhor amigo dele. Von Harden pedira ao riquíssimo Von Eltz que consolasse uma pobre víuva em sua ausência. Sem suspeitar que von Harden o havia traído com aquela bela estranha, ele se deixa envolver por ela. E como Felicitas não conseguia resistir a um rico casamento, quando von Harden retorna, é tarde demais. Logo Von Eltz cai em depressão, abandonado pelo amigo, que finge não gostar de Felicitas para evitar situações constrangedoras. Como na ida dos três juntos à Igreja, quando ouvem o padre furioso que suspeita de tudo fazer um sermão sobre a carne e o diabo. Inútil sermão: ao beber do sangue de Cristo na taça comum, logo depois de Von Harden, que deixa escorrer uma gota do vinho, Felicitas vira a taça para colar seus lábios ali e beber aquela gota… A única crise de consciência que Felicitas tem é quando, prestes a fugir com Von Harden, ganha de Von Eltz um lindo bracelete de diamantes: para compensar sua rarefeita presença no leito conjugal, ele a mima assim com presentes caros. E agora?  Que fazer? Fugir com o amante ou ficar com o marido, isto é, com o bracelete? Ela se descabela, se contorce, se dilacera. É um dilema cruel. Também no final ela é movida por uma crise de consciência, mas esta é provocada pela própria Providência Divina, através da irmã de Von Eltz que ama Von Harden secreta e inutulmente: ela implora a Deus e este então envia Felicitas para um destino trágico, reconciliando os dois amigos na doce Iha da Amizade. Foi rodado um final alternativo heterossexual. Mas o original é bem melhor e parece que o público da época aceitou-o bem, já que Felicitas era o próprio Diabo no corpo de Greta Garbo, a atriz mais perfeita e a mulher mais linda do mundo. 

Anna Karenina (Anna Karenina, EUA, 1935,95′, p&b, drama). Direção: Clarence Brown. Com Greta Garbo, Fredric March, Freddie Bartholomew, Basil Rathbone, Maureen O’Sullivan. Baseado na clássica novela de Leon Tolstoy. São Petersburgo, 1880. A bela Condessa Anna Karenina (Garbo) abandona seu confortável casamento com Karenin, rico funcionário do governo, e seu adorável filhinho, para viver uma súbita paixão pelo Conde Sergei Vronsky, que conheceu em Moscou quano foi ajudar o irmão Stiva a resolver uma crise conjugal. Ao descobrir a traição, Karenin proíbe a esposa de ver Sergei. Mas ela viaja com amante para a Itália, para viver momentos tórridos. O romance, contudo, vai esfriando, e Anna, cada vez mais saudosa do filho, vê-se num beco sem saída. 

Wife vs. Secretary (Ciúmes, EUA, 1936, 88′, p&b, comédia). Direção: Clarence Brown. Com Clark Gable, Jean Harlow, Myrna Loy, James Stewart. O editor Van Stanhope (Gable) é um executivo dinâmico que tem com a bela Linda (Loy) um casamento feliz. Mas os amigos do casal e até a sogra de Linda a alertam sobre a secretária  Whitney (Harlow), de quem até o namorado desconfia. Quando o executivo e a secretária viajam a negócios para Havana, Linda decide agir. 

The rains came (E as chuvas chegaram, EUA, 1939, 103′, p&b, drama). Com Tyrone Power,  Myrna Loy, George Brent, Brenda Joycem Nigel Bruce, Maria Ouspenskaya. Baseado na novela de Louis Bromfield. O sedutor Tom Ransome (Brent), amigo do respeitado médico indiano Major Rama Safti (Power), leva uma vida à toda, há anos, em Ranchipur. Numa recepção na corte da Maharani (Ouspenskaya), Ransome, que se envolve com a jovem Fern Simon (Joyce), reecontra a ex-amante Lady Edwina Esketh (Loy), agora casada com o empresário Lord Esketh (Bruce). Ela aproveita um corte de energia para tentar reatar seu antigo affair com Ransome, embrenhados numa sala isolada do palácio.  Emergindo do apagão, logo ao retornar à sala de jantar ela espicha o olho para o Major Rama:  – Ele não é nada mau, nada mau – cochicha ao ex-amante, dizendo em seguida ao marido, que parece adoentado:  – Não se preocupe que o médico de Ranchipur não é mau. Na manhã seguinte, o médico é chamado para tratar de Lord Esketh e, após a consulta, convidado para um chá com a Lady, que pede que ele mostre um pouco da cidade no dia seguinte: vão a uma escola de música, que ela confunde com um asilo de loucos, e onde ouvem uma triste canção de amor. O romance parece inevitável. Mas o médico é sério e resiste aos encantos de Lady Esketh. Mais tarde, Ransome acompanha Lady Esketh a outra festa, enfurecendo o marido acamado, que anota o nome dele numa lista, que ele elabora com cuidado, contendo os nomes dos amantes da esposa…  Durante a recepção, em meio a uma conversa fútil entre Lady Esketh e Ransome , um terromoto arrasa a cidade, rompe o dique e faz a inundação inundar toda Ranchipur, matando milhares de pessoas. Logo uma peste irrompe. A vida de todos é subvertida. A Maharani, que perdeu seu Marajá na tragédia, pede a Ransome que assuma o cargo de seu conselheiro pessoal e planeja a sucessão do poder para o Major Rama. Aceitando a missão, Ransome indica Fern como assistente. Feliz em poder ajudar o homem que ama, Fern causa inveja em Lady Esketh que, agora apaixonada pelo Major Rama, imita a jovem e se voluntaria como enfermeira para cuidar dos empestados. A Maharani, contudo, tem planos para o Major Rama e ordena a deportação de Lady Esketh. Encarnando agora o papel de santa, Lady Esketh cuida dos doentes com dedicação, mas essa abnegação leva-a a  uma distração fatal: sonolenta, ela bebe água do copo contaminado de uma empestada. Morre redimida, permitindo que o Major Rama – a nova Índia liberta do misticismo irracional -, assuma o poder em Ranchipur. A trilha sonora de Alfred Newman é especialmente brilhante na seqüência em que Lady Esketh se contamina: desde o início dessa seqüência sabemos o que acontecerá graças à música – mas não sabemos como acontecerá aqulilo que prevemos que acontecerá, graças à brilhante direção de Clarence Browm. Segundo o IMDB, as cenas de catástofe consumiram 50 dos 100 dias de filmagens, e nelas foram usados 33 milhões de galões de água. Ranchipur foi construída em 18 acres do terreno dos fundos do estúdio da Fox. Só o palácio do Marajá, arruinado no terremoto, custou 75 mil dólares (uma fortuna na época). O rompimento do dique foi filmado em duas noites usando 14 câmaras. Foi o primeiro filme a ganhar um Oscar por Melhores Efeitos Visuais (categoria então chamada de Melhores Efeitos/Efeitos Especiais), para Edmund Hansen (som) e Fred Sersen (efeitos visuais), que conseguiram assim vencer os efetistas que criaram o incêndio de Atlanta em Gone with the Wind (E o vento levou). De fato temos aqui uma catástrofe ainda mais espetacular: tão convincente que parece filmada ao vivo. Além do aspecto simbólico da estátua da Rainha Vitória submergindo nas águas – uma ácida crítica americana ao colonialismo britânico -, a seqüência proporciona um grande prazer sádico-visual: nada como ver uma cidade inteira ruindo de ponta a ponta, casas desabando sobre massas em fuga, vigas esmagando corpos anônimos, torrentes arrastando milhares de pessoinhas, placas afundando multidões em crateras tectônicas abertas no solo encharcado. Bravo! Uma catástrofe perfeitamente encenada possui algo de mágico que é sempre revigorante. 

Edison, the Man (Edison, o mago da luz, p&b EUA, 1940, 107’, p&b, drama). Direção: Clarence Brown. Com Spencer Tracy e Rita Johnson. Cinebiografia de Thomas Edison que culmina com sua descoberta da luz elétrica. 

The Human Comedy (A comédia humana, EUA, 1943, 118’, p&b, drama). Direção: Clarence Brown. Roteiro: William Saroyan. Com Mickey Rooney, Frank Morgan, James Craig, Danna Reed, Marsha Hunt, Van Johnson. O filme é narrado pelo fantasma de um pai que descreve sua família. Trata-se de um verdadeiro poema em imagens, escrito por William Saroyan. Uma lição de humanismo em plena Segunda Guerra Mundial, procurando encontrar o sentido da vida em meio à mortandade em curso, confortando as esposas e mães que são deixadas sozinhas em casa; os idosos que perdem seus filhos na guerra ou se vêem na iminência de perderem seus empregos com a mudança dos padrões industriais; as crianças e adolescentes que crescem confusas num  mundo conturbado. O eixo da narrativa é o departamento de telegramas do Correio, que acolhe e desencadeia os dramas existenciais dos moradores da pequena cidade de Ítaca. Há dois personagens que aparecem por minutos e se tornam inesquecíveis: o menino feioso e solitário que vai à biblioteca sem nem saber ler, apenas para ver e admirar os livros que o encantam com as formas e cores de suas encadermações; ele se sente tão sozinho que passa uma hora na fila do cinema – não para ver o filme, mas para poder ficar perto de outras pessoas; a professora que explica a dois alunos que se pegam por uma menina o que significa ser um homem civilizado numa democracia; logo em seguida, ao ser desrespeitada por um treinador do colégio, que usa da mentira para obter privilégios para o aluno rico – que ele treina – vencer a corrida, ela não hesita em transgredir seus princípios abstratos para impedir que o aluno pobre – que é mais capaz – seja concretamente prejudicado na disputa. 

The White Cliffs of Dover (Evocação, EUA, 1944, p&b, mudo, drama, romance). Direção: Clarence Brown. O título original é mais poético que o nacional: “Os brancos rochedos de Dover”. Irene Dunne é uma jovem americana que vai passar as férias em Londres e acaba se apaixonando por um baronete inglês, interpretado pelo belo ator Alan Marshal, um nome  hoje esquecido. Ela se casa com o baronete, e logo o perde na Primeira Guerra. Alguns anos depois, o filho que ela teve com o baronete cresce saudável no campo, encantado com a filha de uma família de dependentes (Elizabeth Taylor, uma boneca de 10 anos de idade). A cena em que o garoto recebe dois nobres amiguinhos alemães para o chá é brilhante: jovenzinhos hitleristas, eles se comportam como espiões atrapalhados em suas mentiras, já anunciando, contudo, de modo sinistro, a próxima guerra e suas novas tragédias. Enfim, chorei muito. Que filme… O que era o cinema então… O que é o cinema agora… Nada mais presta… 

National Velvet (Virtude selvagem, EUA, 1944, 123′, cor, drama). Direção: Clarence Brown.Com Elizabeth Taylor, Mickey Rooney, Donald Crisp, Anne Revere, Angela Lansbury. Baseado no romance de Enid Bagnold. Desgostoso da vida depois de sofrer um acidente, Mike Taylor (Rooney), jovem ex-jóquei inglês, planeja roubar a família que o abrigou. Mas vacila diante da bondade da menina Velvet (Taylor, aos 11). Os dois adoram cavalos.  Quando Velvet ganha um alazão numa rifa, ela o inscreve no Grand National Sweepstakes. Embora Mike não possa correr, ele ajuda a menina a se disfarçar de jóquei: e ela ganha a corrida. Anne Revere ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. 

The Yearling (Virtude selvagem, EUA, 1946, 128′, cor, drama). Direção: Clarence Brown. Com Claude Jarman Jr., Gregory Peck, Donn Gift, Jane Wyman. Adaptado da obra de Marjorie Kinnan Rawlings, ganhadora do Prêmio Pulitzer. Flórida, 1870. Em meio à natureza selvagem, pioneiros criam pequenas ilhas de civilização. Nessa terra fértil e de grande beleza, mas nem sempre receptìva à espécie humana, o menino Jody Baxter (Jarman Jr.), de 11 anos, tenta convencer os pais Ezra (Peck) e Orry (Wyman) a que o deixem ter um bichinho de estimação.  Isso significa uma boca a mais para ser alimentada, o que torna o desejo do menino um sonho proibido. Endurecida pela vida de trabalho incessante e pela morte de seus três primeiros filhos ainda crianças, Orry nem sequer tem um poço perto de casa para poder lavar a roupa e banhar-se: ela vive se queixando de tudo, eternamente mal humorada. Já Ezra esbanja energia e otimismo, é o pai perfeito, o melhor amigo de Jody, capaz de enxergar um lado bom até numa tragédia: mesmo ferido de morte, ele se levanta e segue em frente, sem nunca desistir. Quando ele quase morre picado por uma cascavel, manda Jody – tão alegre e vital quanto ele –  sacrificar uma corsa para usar seu coração e fígado para absorver o veneno. O menino salva assim o pai, mas descobre que a corsa tinha um filhote, que agora ficou só e abandonado. Decidido a adotar o bichinho, o menino convence o pai a convencer a mãe a deixar que ele o traga para casa. A mãe reluta, mas, considerando que o marido quase morreu e conseguiu sobreviver através do sacrifício da corsa, acaba aceitando. O filhote, chamado de Flag, logo cresce e começa a destruir as plantações. Nem mesmo uma cerca, erguida a duras pelas por Jody, numa tentativa desesperada de manter a corsa consigo, consegue deter Flag e impedir que ela devore as mudas que foram plantadas com grande sacrifício. Enfim, o pai exige que o filho amarre Flag numa árvore e a mate com um tiro. O filho não consegue fazê-lo, deixa Flag fugir, mas no dia seguinte ela retorna à plantação, e Orry a fere com um tiro. Jody termina o sacrífio jurando ódio eterno aos pais. Fugindo de casa, passa três dias sem comer, perdido num barco… Mas acaba retornando, menos intrépido e mais amadurecido, tendo aprendido que a vida é boa, mas difícil, e que não se pode conquistar nada  – nem um poço de água para a mãe – sem sacrifícios. A família se reconcilia e o filho dorme em paz, sonhando com Flag, não com tristeza ou dor, mas como um jovem adulto que recorda o momento mais feliz de sua infância… Em esplêndido Technicolor, o filme foi indicado a sete Oscars, tendo recebido dois: o de Melhor Direção de Arte e o de Melhor Fotografia em Cores. Peck ganhou o Globo de Ouro de Melhor Ator.  Mas Jarman Jr. e Wyman mereciam igualmente os prêmios máximos do cinema americano por suas antológicas perfomances.

Song of Love (Sonata de amor, EUA, 1947, 118′, p&b, drama romântico). Direção: Clarence Brown. Com Katharine Hepburn, Paul Henreid, Robert Walker, Else Janssen, Henry Daniell.  A extraordinária pianista Clara Wieck (Hepburn) abandona a carreira para dedicar sua vida ao brilhante, mas ainda obscuro compositor Robert Schumann (Henreid). Os anos passam. Esposa e mãe devotada, Clara desdobra-se para cuidar de seus sete filhos, com a ajuda da temperamental governanta Bertha (Janssen), enquanto Robert leciona música para sustentar a família. Entre seus alunos, destaca-se o jovem Johannes Brahms (Walker), que passa a morar com os Schumann. Johannes apaixonou-se por Clara desde o primeiro dia em que a viu, mas esse romance permanece platônico até o fim. Clara adora o marido, que começa, contudo, devido às dificuldades econômicas e à falta de reconhecimento – apesar de todo o apoio que recebe do bem sucedido Franz Liszt (Daniell) a soçobrar na melancolia. É internado num asilo, onde imagina ter acabado de compor a primeira sonatina que dedicara a Clara como presente de casamento. Com a morte de Schumann, Clara é revisitada por Brahms, que ainda a ama, e deseja desposá-la, mas ela insiste em permanecer fiel ao falecido, passando a dedicar o resto da vida a divulgar, nos teatros, suas composições imortais. O filme termina com seu concerto de despedida, já idosa, em presença de Sua Majestade, que criança a vira tocar, encantado, naquele mesmo teatro, aquela mesma sonatina de Schumann. Pouco antes de a música terminar, a câmara afasta-se do piano, abarcando o palco, ampliando sempre o travelling panorâmico em recuo, voando delicadamente de costas até o lugar mais alto do teatro, visto agora em magnífico plano geral: e quando a música termina, no último estágio do travelling, podemos, junto com as mãos de um espectador anônimo, fechar o programa do concerto, ornado com um camafeu com os perfis de Clara e Schumann, gravado em delicado alto relevo, e por que não dizer, em puro ouro cinematográfico.

To Please a Lady (Agora sou tua – Indianapolis, EUA, 1950, 95′, cor, comédia romântica). Direção: Clarence Brown. Com Clark Gable, Barbara Stanwyck. Mike Brannan (Gable), arrogante piloto de provas, odiado e admirado na mesma medida, é acusado de provocar um acidente fatal. Investigando o caso, a dura repórter Regina Forbes (Stanwyck) tenta entrevistar o escorregadio corredor. 

Angels in the Outfield (EUA, 1951, 99′, p&b). Direção: Clarence Brown. Com Paul Douglas, Janet Leigh, Keenan Wynn.