Do ponto de vista econômico, a indústria do cinema tornou-se cada vez mais agressiva na conquista do público, até que Hollywood açambarcou praticamente todo o mercado mundial do filme. As estratégias de marketing não são novidade no mundo do cinema; a novidade é que, hoje, o marketing torna-se massivo, agressivo, dominante.
Na publicidade, a nova estratégia ganha o sugestivo nome de marketing de guerrilha. Como observou Naomi Klein, em No Logo, os anunciantes estão estendendo seus tentáculos como nunca, comercializando espaços públicos, contratando celebridades, encontrando maneiras inusitadas de atrair grupos minoritários, comunidades étnicas, nichos e segmentos, atingindo a todos.
Durante uma Maratona de Nova York, a Nike vestiu pessoas com lençóis e placas-sanduíche proclamando “O fim está próximo”. A Mattel pintou uma rua inteira de cor-de-rosa para promover a boneca Barbie. No Natal de 2002, um sítio na Internet promoveu-se deixando oito mil carteiras nas calçadas de Manhattan com um cartão com seu endereço virtual. A Pizza Hut colocou um anúncio de US$ 1,25 milhões em um lançador de foguetes Próton da agência espacial russa. A Coca-Cola pensou em projetar sua logomarca na Lua…
A globalização, junto ao marketing de guerrilha, produz um empobrecimento do imaginário. Outrora, uma viagem à Europa podia significar a descoberta de uma cultura de massa européia; hoje, nas grandes salas daquele continente, assiste-se aos mesmos blockbusters americanos em exibição em Nova York, São Paulo, Singapura ou Tel-Aviv.
Já a nouvelle-vague representou uma decadência do grande cinema francês: Jacques Rivette, Jean-Luc Godard, Louis Malle, François Truffaut, Claude Chabrol, Alain Resnais e Jacques Demy produziram, em seus melhores momentos, obras notáveis, mas não atingiram o mesmo nível estético das obras-primas de Jean Renoir, Jacques Becker, Robert Bresson, Julien Duvivier, Jean Grémillon, Henri-Georges Clouzot ou Jacques Tati.
Das novas promessas do cinema europeu, apenas Andrej Zulawski, Kristoph Zanussi, Krzysztof Kieslowski, Raul Ruiz, Pedro Almodóvar, Lars von Trier e Aleksander Sukoróv demonstraram possuir fôlego. A União Européia projeta um cinema de massa nos moldes do cinema americano; dificilmente novos autores nascerão da empreitada.
Que esperar de um cinema europeu unificado? Hoje, com raras exceções, os filmes europeus mostram-se aborrecidos, sem humor, politizados e mórbidos; a manter-se neste rumo, o cinema europeu do século XXI poderá satisfazer apenas um público vazio, pomposo, arrogante e depressivo com imagens cada vez mais escuras, a ponto de não se enxergar nem atores, nem cenários, nem paisagens: diálogos intermináveis gemidos nas sombras.
O triunfo do cinema americano não significa, por outro lado, o triunfo de suas qualidades. Hollywood entrou numa decadência estarrecedora. Tal como a publicidade, que explora as regiões inconscientes da mente do público, o cinema americano mostra-se cada vez mais um instrumento de propaganda.
Através do merchandising, os mais diversos produtos são anunciados nos filmes de sucesso como se o espectador não passasse de um consumidor em tempo integral. Nem em seu tradicional refúgio pode ele agora se livrar do totalitarismo das marcas: como se não bastassem os anúncios que precedem o filme, o espectador passou a ser bombardeado com anúncios disfarçados dentro dos próprios filmes.
Hoje, sequências inteiras dos blockbusters são criadas para merchandising e videoclipes dos sucessos de bilheteria criados para vender sua trilha sonora. A indústria cultural de que falou Adorno ficou para trás. Hoje vivemos num conglomerado de rizomas, onde cada filme produzido constitui ele mesmo uma indústria cultural, que se eterniza através de seus subprodutos.